jeudi 25 août 2016

A disciplina do Amor passa ao largo de Lisboa





"Todos os dias, com o passar dos anos (a memória dos homens!) as pessoas foram se esquecendo do jovem soldado que não voltou. Casou-se a noiva com um primo. os familiares voltaram-se para outros familiares. Os amigos para outros amigos. Só o cachorro já velhíssimo (era jovem quando o jovem partiu) continuou a esperá-lo na sua esquina.

As pessoas estranhavam, mas quem esse cachorro está esperando?…Uma tarde (era inverno) ele lá ficou, o focinho voltado para aquela direção."


Lygia Fagundes Telles,  “A disciplina do amor”, 1980




Animais que pensam, sentem, sonham serão brutal e covardemente torturados hoje, 25 de Agosto de 2016, numa capital que se, geograficamente se situa no espaço europeu, hoje será a menos europeia de todas as outras capitais. O campo pequeno, apequena as ideias, amesquinha Lisboa, Portugal e todos os portugueses, reduzindo-nos a um punhado de sádicos tauricidas de um lado, de perplexos e inconformados abolicionistas de outro, separados por indiferentes que viram a cara.

Para a maioria, tanto faz. E por essa razão, os aficio,nados em minoria, mas que sempre berram mais alto, conseguirão mais uma vez se regalar, se fartar do que lhes alimenta as pobres almas, do medo, do sofrimento, da dor, da morte escondida mas inequívoca de animais, a quem tirar-se-á, nesta noite macabra, o sagrado direito e a nobre dignidade de esperar, ate sua tarde de inverno. 

Hoje, é o cavalo e o touro que bailam a coreografia sinistra da luta pela vida. Tauricidas poderosos e insignificantes, alinham-se lado a lado, numa noite de maldita comunhão. Amanha, os poderosos hão-de repelir os insignificantes, e serão estes a levar com os os ferros da exploração nos lombos que que se inclinam, vergados pela ignorância e vergonha.

Oh touro, hás-de ouvir os gritos de dois lados ensandecidos, esta noite, De uns poucos, que do lado de fora do campo das ideias pequenas, gritarão em tua defesa. Pequenos em número, gigantes em valentia e distinção. Ao pisares ingenuamente as areias da arena, outros gritos ouviras, dos que ali se aglutinam e se sentem maiores, em maior número, que não possuem nenhuma coragem ou distinção, e que te desejam ver sofrer e cair, que te querem morto, mas que de tao covardes que são, naos são capazes de o admitir. 

Teus sentidos hoje embotados, acostumados com as pradarias onde teus mestres traidores deram te de te viver apenas pelo dia de hoje, o dia que ansiavam por agarrar com suas mãos sujas do teu  sangue, os dinheiros pelos quais traíram te e venderam te a loucos e mercenários, que se servirão de  carrascos coloridos de lantejoulas e rendados, fantoches de um circo de horror, para que se cumpra o ritual infernal da tua paixão.

Porque lutaras pela tua vida, sem saberes que não tens hipóteses de vencer esse sacrifico disfarçado de  combate, vão os idiotas das galerias chamar te valioso e mau ao mesmo tempo. Tornar te as, o protagonista involuntário do negocio sujo e imoral que os cínicos chamam festa brava, mas que é bárbara. E nojenta.

Hoje, ou nos próximos dias, terá chegado tua tarde de inverno. Perdoa-nos. Mas ao fixares teu focinho numa direcção qualquer e para sempre, porque te negaram a glória de escolheres a tua direcção, descansa em paz e sabe, que um dia, terás tua gloria merecida, no dia que a maioria dos portugueses despertar do torpor, der as mãos aos que lutam por ti e pelos teus descendentes, e unidos, vencerem o mal, tornando nosso mundo um lugar melhor, para todos. Lisboa, derruba os muros da tua Bastilha pequena. Lisboa, orgulha e dignifica Portugal!


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