mardi 21 décembre 2021

À bientôt, mon ami Dexter

Voilà,  le moment est venu et tu est parti mon grand.
Mais, ça va, on tient le coup, grâce à la Parole.
À bientôt, mon bébé. Prends bien soins de toi et de ton frérot.
Je vous aime de tout mon cœur.

"... Fly me up to where you are
Beyond the distant star
I wish upon tonight
To see you smile
If only for a while
To know you're there
A breath away's not far to where you are.

Are you gently sleeping
Here inside my dream?
And isn't faith believing
All power can't be seen

As my heart holds you
Just one beat away
I cherish all you gave me
Everyday

Cause you are my
Forever love
Watching me
From up above

And I believe
That angels breathe
And that love will live on
And never leave

Fly me up to where you are
Beyond the distant star
I wish upon tonight
To see you smile
If only for a while
To know you're there
A breath away's not far to where you are
I know you're there
A breath away's not far to where you are"


(Paroliers : Linda Thompson / Richard N Marx)


lundi 23 août 2021

Até breve, meu amigo Anuk

O mal e o sofrimento, de Leandro Gomes de Barros (Paulista, 19/11/1865 — Recife, 4/03/1918) poeta de literatura de cordel brasileiro

Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?
Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?
Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?
Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?

jeudi 5 avril 2018

Tourada. Uma prática de outra era... #stopcorrida


(Disponivel em:<https://www.youtube.com/channel/UCnAIad2CFSuieSiFVr84xzg/videos>. Acesso em 17.12.2019)


As tradições das touradas acontecem na Espanha e também no sul da França, Por lá, as touradas foram consideradas como parte do Patrimônio Imaterial e Cultural francês. 

FLAC (Federação Francesa de Luta pela abolição das touradas) quer mudar esse cenário em defesa dos direitos e do bem-estar dos animais.
Com a ajuda da agência francesa BETC, de Paris, foi criado um vídeo para mostrar a obsolescência desta prática, conscientizar sobre essa crueldade com os animais que estão associadas com as touradas, além de retratar a grande importância de que nós devemos evoluir para evitarmos ficar no passado. No filme, o velociraptor aparece no lugar de um touro para ressaltar o quanto é absurdo e cruel essa tradição, onde o sofrimento do animal que é totalmente desnecessária, ainda permanece até os dias atuais para benefício de diversão pública.

A produção é da Unit Image, os mesmos criadores de jogos de animação, como Call of Duty, Final Fantasy XV e Assassins Creed. Desta vez, eles usaram as suas habilidades em efeitos especiais para simular um velociraptor contra o touro durante uma tourada. Apesar de ser imagens de animação geradas através do computador, elas são fortes, uma vez que a sua intenção é refletir o sofrimento dos touros.

(Artigo disponivel em: < https://www.comunique9.com.br/2017/05/confronto-do-toureiro-contra-um.html>. Acesso em 5.4.2018)

(#stopcorrida:<http://flac-anticorrida.org/qui-sommes-nous/>. Acesso em 17.12.2019)

A psicologia das touradas




Cecilio Paniagua é doutor em medicina pela Universidad Autónoma de Madrid, psiquiatra pela Thomas Jefferson University, psicanalista pelo Baltimore Psychotherapy Institute, professor de psiquiatria da Georgetown University, membro titular da American Psychoanalytic Association e fellow do American College of Psychoanalysts. Autor de numerosas publicações psicanalíticas, pelas quais ganhou o prémio Lewis B. Hill. Autor do livro Visiones de España. Reflexiones de un psicoanalista.  Reside e mantem prática privada em Madrid.

Neste artigo[1] ele apresenta uma perspectiva psicanalítica da evolução socio- histórica da tauromaquia. Comenta o escoamento psicológico do sadismo, o narcisismo, o erotismo e as identificações da claque, concluindo que a tauromaquia constitui uma complexa transacção[2] cultural entre impulsos inconscientes e a inconstante sensibilidade social à crueldade, expressada por meios estéticos tradicionalmente aceites.
Esta é uma tradução livre do seu artigo.

Psicologia da afición taurina

(Imagem disponível em:< https://blogcamp.com.br/influencia-da-cultura-espanhola/>. Acesso em 4.4.2018)

Evolução histórico-cultural
Proibida durante períodos distintos em Espanha, a tauromaquia chegou a ser condenada pelo Papa Pio V, sob pena de excomunhão. Apesar de proibida, continuavam a celebrar-se festas com touros, que contavam não poucos eclesiásticos disfarçados. A condenação de Roma nunca conseguiu erradicar a paixão dos espanhóis por sua festa nacional.
No século XVIII os touros passaram a ser lidados a pé por toureiros das classes populares. A lida deixava de ser um exercício cavaleiresco, proporcionando uma base importante de identidade cultural e de reafirmação do casticismo, ao longo da acidentada história do país.

Entretanto, outros pensadores espanhóis têm sustentado que a tradição dos touros não constitui parte essencial da identidade cultural daquele país, e que, além disso, tem contribuído ao relativo atraso com respeito às outras sociedades europeias.
Esta divisão de opiniões permanece até o presente. Blasco Ibánez (1908) escreveu com ironia: “Los hijos de los que asistían con religioso y concentrado entusiasmo al achicharramiento de herejes y judaizantes se dedicaron a presenciar con ruidosa algazara la lucha del hombre con el toro, en la que sólo de tarde en tarde llega la muerte para el lidiador. ¿No es esto un progreso?”, acrescentando, “La única bestia en la plaza es la gente”.

A realidade é que a maior parte dos pensadores, literatos e artistas espanhóis tem exaltado os valores psicológicos e estéticos de la fiesta de los toros. A história da tauromaquia proporciona um bom campo para o estudo das transacções psicológicas relativas à tolerância e à crueldade. A evolução do seu regulamento reflecte a intenção de se chegar a distintos compromissos entre as inclinações sádicas de la afición (sua fascinação pelo risco corrido pelo toureiro e o sacrifico do touro) e a inconstante sensibilidade da sociedade com respeito aos espectáculos sangrentos.

O debate na Comunidade Europeia sobre o tema é expoente de tal relativismo. Por um lado defende-se esta manifestação cultural arraigada secularmente nas preferências populares de Espanha. Por outro, os activistas pró-direitos dos animais defendem a proibição do sacrifício cruel de reses nas praças taurinas. Por um lado alega-se que acontecem espectáculos taurinos em setenta por cento das cidades de Espanha, contribuindo para manter um ecossistema sem igual no mundo, a pagar muitos salários e a financiar mais de mil ganadarias (Laplazareal 2007). Por outro lado assinala-se como altamente significativo que o Parlamento europeu tenha decidido suprimir o subsídio para os criados de animais com o propósito de morrer em praças destinadas à lide de reses (NPR 2008).




(Imagem disponível em:< https://www.portalsaofrancisco.com.br/turismo/tourada>. Acesso em 4.4.2018)

Perspectiva social
Uns sessenta milhões de pessoas em todo o mundo são espectadores de festejos taurinos. A afición é devida a que proporciona um marco único para o alívio e projecção de impulsos instintivos primitivos reprimidos. Claramente, seu principal atractivo é a gratificação inconsciente dos impulsos sádicos. La fiesta gira em torno da dor e da morte do touro por trás de um conjunto artístico ritualizado de tortura.

A afición exige que o matador aproxime-se do touro, ou seja, que arrisque a vida. Um ditado popular afirma que é o público quem dá as colhidas. O ritual da corrida pretende precisamente proporcionar um recipiente ao sadismo. Em Viajes por España (autor holandês anónimo) do início do século XVIII, pode-se ler: “El deseo que muestra esa nación de matar a los toros es increíble. Si por azar el pobre animal passa cerca de los tendidos, lo atraviesan con mil golpes de sus espadas, y cuando lo derriban quieren apoderarse de su cola o sus partes vergonzosas, que se llevan en sus pañuelos como señal de alguna victoria”.

Originalmente, as bandarilhas eram arpões que tanto toureiros como espectadores atiravam aos touros. O desjarrete do animal e sua matança multitudinária foi atracção muito celebrada. O sadismo da tauromaquia actual, pois, resulta pálido comparado às práticas taurinas do passado.





(Imagem disponível em:< https://rafatrotamundos.wordpress.com/2012/08/16/edipo-rei-de-sofocles/>. Acesso em 4.4.2018)

Perspectiva psicanalítica
Na praça de touros, os ânimos do público flutuam muito. Uma característica da mente em conflito é a ambivalência interpessoal, que talvez defina melhor os sentimentos da claque em relação ao toureiro. De facto, cada vez que um touro arranca, o aficionado experimenta dois desejos em conflito: que o toureiro seja colhido e que o efeito não tenha consequências sangrentas. Apenas este ultima costuma ser consciente. Estes dois desejos contrários satisfazem no espectador duas instâncias psíquicas diferentes: o Id dos instintos e o Superego da consciência.

Existem muito poucos trabalhos publicados sobre a tauromaquia na literatura psicanalítica. O psicanalista Martin Grotjahn (1959) sustentava: “Os aspectos horríveis da tauromaquia anulam o interesse que possui a simbolização inerente ao seu ritual. Talvez isto explique a escassez de tentativas analíticas de interpretação de la fiesta”.

Em alguns dos artigos psicanalíticos disponíveis, la fiesta tem sido interpretada a representação de um drama edípico: o filho derrota o pai. Freud havia escrito em 1901: “ Zeus parece ter sido primitivamente um touro, e também nosso velho Deus teria sido adorado primeiro como touro”. A ideia de Deus procede de fantasias relativas à percepção por parte do menino da figura paterna como omnipresente. 

Portanto, o sacrifico do touro-Deus há-de representar uma continuação ou, mesmo, um eco do impulso original - reprimido logo - para o parricídio. Tanto no caso dos toureiros como no dos espectadores, a lida e morte do poderoso touro satisfaria então o desejo edípico reprimido de vencer e eliminar o rival paterno.





(Imagem disponível em:< https://zap.aeiou.pt/toureiro-morre-colhido-na-arena-em-espanha-120300>. Acesso em 4.4.2018)

Justificações e relativismo do sadismo
A maioria dos espectadores de uma corrida de touros rechaçaria a ideia de que vai aos touros com fins cruéis. Tampouco aceitaria que seu propósito era contemplar o sofrimento e a morte dos animais. Blasco Ibánez escreveu sagazmente em Sangre y Arena (1908): “Todos gritaban con vehemente ternura por el dolor de la bestia, como si no hubiesen pagado para presenciar su muerte”. A conclusão escusatória é que o touro é um agressor que o toureiro tenta eliminar. Pode convencer-se de que o mata em própria defesa.  

A maior parte dos aficionados simplesmente alegaria, e com razão que a tauromaquia é uma festa sem par no mundo, um espectáculo emocionante e belo em que se demonstra a coragem, a arte e a inteligência de um homem ante uma besta valente. Embora compreensível, toda esta argumentação é adicional e não substitui o sadismo inerente à tauromaquia. Quando os assistentes à uma corrida dizem que padecem com o sofrimento e se alarmam se o toureiro for ferido pelo touro, não estão conscientes que estes sentimentos são reactivos aos seus ocultos desejos sádicos.

Ao público agrada-lhe secretamente a ideia de lamentar tragedias, chorar as vítimas e horrorizar-se por sucessos sangrentos. Além disso, a excitação diante do perigo do próximo pode ser prazerosa.

Esta experiência está relacionada com a atracção que despertam as representações aterrorizantes. Estas permitem-nos projectar em figuras externas medos e dramas internos, evitando a própria sensação de perigo. A respeito deste tipo de atracção sinistra, Freud (1919) conjecturou: “Lo siniestro en las vivencias se da cuando complejos infantiles reprimidos son reanimados por una impresión exterior, o cuando convicciones primitivas superadas parecen hallar una nueva confirmación”. Poderia dizer-se que a afición sente-se atraída pelo sinistro das corridas porque estes constituem um cenário apropriado para a representação projectiva de dramas sádico inconscientes do passado infantil. Pode insistir-se na beleza e a arte como argumento central aos festejos taurinos, mas então como explicar, por exemplo, a enorme popularidade dos célebres, embora pouco “artísticos” curros?

Existem engenhosas racionalizações para justificar o espectáculo cruel da tauromaquia. Por exemplo, recorda-se que o touro tenta matar o toureiro, como se o animal tivesse escolhido ir à praça com essa intenção. José Ortega e Gasset (1929) escreveu: “¿Es de mejor ética que el toro bravo desaparezca como especie y que muera en el prado sin que muestre su gloriosa bravura?”. Atribuindo ao animal sentimentos humanos, Enrique Tierno Galván (1951) opinou que, “El toro vive en el ruedo una gloriosa aventura coronada por la mayor concesión que el hombre pueda hacer con el animal: la lucha franca e igualada”. Chega a pensar-se inclusive que o destino natural do touro de lida é de ser morto na arena, que, como escreveu Miguel Hernández em Corrida real,“Ya en el tambor de arena el drama bate / Mas no: que por ser fiel a su destino, / El toro está queriendo que él lo mate”.

Junto com estas justificações racionalizadas entra em jogo a defesa psicológica do isolamento do afecto, defesa inconsciente que permite-nos manter dissociada a emoção desagradável que corresponderia à visão de um espectáculo sangrento. Esta defesa inconsciente é mediada pela cultura. Mas também acontece que um estrangeiro possa superar sua repulsão inicial e transformar-se em aficionado. É como se o gosto pelo espectáculo do público ao seu redor desse luz verde ao sadismo reprimido.

Uma pergunta fundamental neste assunto é: a tauromaquia alimenta o sadismo do aficionado ou canaliza-o dentro de um marco estético? A pergunta a elucidar seria se a aceitação social do espectáculo dos touros promove a expressão sádica de instintos agressivos que poderiam ter sido sublimados por alternativas socialmente mais úteis; ou se, pelo contrário, neutraliza seu potencial destrutivo por meio da descarga parcial destes instintos. A resposta é seguramente que a festa dos touros provoca ambos os eventos, psicologicamente contraditórios no espectador.
Para uma resposta exacta quanto à abordagem de disposições práticas relativas à conveniência social da sobrevivência da festa dos touros, seriam necessários estudos multidisciplinares sérios, mas trata-se de uma manifestação muito enraizada na tradição espanhola e, portanto, difícil de examinar desapaixonadamente. Além disso, recordemos que, ao longo da história, o sadismo inevitável do ser humano foi sancionado em decisões culturalmente aceitáveis que não implicaram derramamento visível de sangue, como medidas políticas e económicas.




(Imagem disponível em:< http://odeiorodeio.com/site/caceres-ficara-novamente-sem-touradas/>. Acesso em 4.4.2018)

Identificações e narcisismo
Os espectadores experimentam sentimentos fortes não só em relação ao toureiro, mas também em relação ao touro. De facto, podemos nos identificar com o animal antropomorfizado. Miguel Hernández (1934-35) reconhece uma similitude com este nos versos: “Como el toro he nacido para el luto / Y el dolor, como el toro estoy marcado... / Como el toro te sigo y te persigo, / Y dejas mi deseo en una espada, / Como el toro burlado, como el toro”. Se o touro é visto inconscientemente como a encarnação de impulsos inaceitáveis, dos próprios impulsos "bestiais", a afición aprovará a agressão contra o animal.

Mas se o espectador percebe o toureiro como merecedor de represálias pelo seu comportamento sádico de viés parricida, seu Superego pode formar na fantasia uma aliança com o potencial homicida do animal. Claramente, o touro pode ver-se, igual ao toureiro, como agressor e como vítima. O público reage de acordo com a oscilação de suas identificações.

Para a afición é importante saber que o touro tem uma oportunidade para matar o seu matador, que não se trata de uma caça. O igualamento das forças possibilitado pelo toureio a pé, que fez da lida um ofício popular, ao facilitar as identificações da maioria com o toureiro, acrescentou um atractivo crucial à tauromaquia. Se o toureiro arrisca pouco, o equilíbrio se rompe. No seu Viaje a España (1830-1853), Prosper escreveu: “En cuanto desaparece el peligro, ya no se ve sino mozos de carnicería que martirizan a un pobre animal [...] Sólo el peligro hace olvidar la asquerosidad de la sangre y de las entrañas desparramadas”
Também existe a identificação com a atitude exibicionista do toureiro. De facto, um das dinâmicas mais importantes na organização mental do toureiro é a da gratificação narcisista. Os sonhos de esplendor e de imortalidade servem, por sua vez, para compensar sentimentos passados de inferioridade.

Ao sentir-se muito sido ansioso por obter uma sensação de grandiosidade na arena, ou quando precisa da aclamação da afición a qualquer preço, o toureiro será impelido a pôr sua vida em um perigo maior que o que o aconselharia o senso comum.

Quando a praça vibra com o matador, participa por alguns momentos dessa exaltação egocêntrica que constitui, na realidade, a regressão ao gozoso sentimento da omnipotência exibicionista da infância. Mas essa reacção emocional tem pouco a ver com afecto verdadeiro em relação ao toureiro. O fervor da claque de uma tarde pode transformar-se em hostilidade à seguinte ou, pior ainda, em indiferença. Muitas figuras da tauromaquia têm temido mais ao declínio da popularidade que mesmo às colhidas. O toureiro, desconhecido pessoalmente para a maioria, não é mais que depositário das paixões da afición; estes podem ser transferidos sem hesitação a outro toureiro, objecto de projecções semelhantes. O menos importante é protagonista, o que importa é o conteúdo inconscientemente projectado sobre ele.





Rivalidade, inveja e erotismo
Para os espectadores, a festa taurina oferece outras telas importantes de projecção de conflitos inconscientes. Uma delas é a rivalidade fraterna implícita na competitividade dos toureiros.

Quando um dos toureiros é colhido, o público pode recomendar cautela ao rival. Entretanto, em outros casos, a reacção pode ser muito diferente, passando aquele a receber insultos à cada aparição na arena. Ao decidir que sua indecisão no momento de fazer-se ao touro contribuiu para uma colhida ou morte de um toureiro, o público encontrava responsável pela tragedia, mitigando assim o peso de sua própria culpa pelo cumprimento fatal de seus desejos homicidas inconscientes.

A posição privilegiada do toureiro de cartaz - dinheiro e fama na juventude - inspira admiração, mas também inveja, inevitável face da mesma moeda. É comum que o espectador tente compensar este sentimento doloroso que denota inferioridade e, que além disso, é censurável para a consciência, por meio de superioridade. Deste modo, promove-se em juiz do que passa na arena, faz exigências ao toureiro e reivindica para si a prerrogativa da aprovação ou do insulto.

Outra fonte da inveja do toureiro é com respeito à imagem da masculinidade. O toureiro, cujos rendimentos e sucesso dependem da aceitação do público, tem que amoldar-se, em troca, aos desejos da afición. É certamente sintomático que tantos toureiros tenham adoptado – ou aceitado – apelidos que infantilizam ou que sejam mais ridículos que afectuosos. O uso destes pode contribuir para "perdoar-lhes” o sucesso.

As práticas taurinas podem ter, também, uma dimensão erótica para a afición.
Tierno Galván (1951) citou numerosos exemplos do léxico da tauromaquia que se empregam com significado sexual, fazendo a seguinte afirmação machista: “En lo que afecta a las relaciones eróticas, la mujer se ve como una entidad rebelde y bravía a la que hay que domeñar por los mismos medios y técnica que se emplean en la brega taurina” (!)

É necessário lembrar de que, a um nível mais profundo, a tauromaquia pode ter significados homossexuais inconscientes. Há uma passagem do romance daquele grande aficionado que era Ernest Hemingway (1960), The Dangerous Summer, em que se narra uma colhida à Ordóñez. A história do acidente evoca um coito homossexual sádico: “Al recibir al toro por detrás [...] el cuerno derecho se clavó en la nalga izquierda de Antonio. No hay un sitio menos romántico ni más peligroso para ser cogido [...] Vi cómo se introducía el cuerno en Antonio, levantándolo [...], la herida en el glúteo tenía seis pulgadas. El cuerno le había penetrado junto al recto rasgándole los músculos”.

Na realidade, o traje de luzes, enfeitado e apertado, o rabo-de-cavalo, os andares manhosos[3] e a atitude exibicionista, têm sido, em nossa cultura [espanhola], mais característicos da mulher. Vem à memória a letra de outra opereta cómica, La corría de toros de Antonio Paso, em que se comenta de um tourero: “Miré usté qué hechuras. / Mi’usté qué posturas./ Mire usté qué facha de perfil. / Un torero más bonito y más plantao / No lo encuentro ni buscao / Con un candil. / Mire usté qué tufos, / Mi’usté qué coleta, / Mire usté qué glúteo tan marcao...”.





Masoquismo e angústia diante da morte
É evidente que o toureio de ocupação serve para a expressão de tendências masoquistas e, naturalmente, a afición reage potencialmente diante de comportamento potencialmente suicida dos toureiros. É comum que às vezes estes não parecem se aperceber de que certos passos são especialmente arriscados com alguns touros, enquanto os espectadores percebem-no claramente. Como costuma dizer a afición, “los toros avisan”. O psiquiatra Fernando Claramunt (1989) tem escrito sobre a psicogénese e a psicopatologia das colhidas. Em algumas ocasiões os toureiros expressam abertamente no comportamento, inclusive verbalmente, suas tendências autodestrutivas.

Em algumas colhidas auto-induzidas ou meio provocadas pode-se discernir também a dinâmica da vingança contra uma afición - parental - sádica. O sacrifício masoquista do toureiro teria como como finalidade punitiva pretenda causar ou alimentar naquela culpabilidade. A este respeito, num artigo com o título El placer de ser cogido, D. Harlap (1990) explicou eloquentemente a existência desta motivação no caso de Manolete.

A tauromaquia constitui uma forma culturalmente sintónica de enfrentar a angústia da finitude, o medo da morte que todo o ser humano experimenta. Existem várias manobras psicológicas contra esta angústia universal, como o soterramento no inconsciente – que é o que o termo repressão significa no vocabulário psicanalítico -.

Desenvolvem-se também formações reactivas, que resultam que o sujeito convença-se que a ideia da morte não é terrível, pelo contrário: é bela e desejável. As defesas maníacas exaltam de maneira compensatória a vitalidade das corridas e a falsa convicção de invulnerabilidade. O psicanalista espanhol Emilio Valdivielso (1977), falando de Ignacio Sánchez Mejía, expos a tese de que, “Cuando el torero está toreando, torea y burla a la muerte que él mismo lleva dentro; y cuando mata al toro, está matando a su propia muerte”.

Garcia Lorca (1933) disse: “España es el único país donde la muerte es el espectáculo nacional, donde la muerte toca largos clarines a la llegada de la primavera”. A recordação da morte é muito característica da cultura espanhola. Sua importância na arte e literatura é algo que chama poderosamente a atenção aos estrangeiros e a tauromaquia deveria ser considerada como um caso típico desta transacção cultural psicológica. O combate aos touros supõe um enfrentamento à morte. Raphael E. Pollock (1974) fez a aguda observação que “quizá el drama de que a la muerte del toro le sigan otros toros y otras corridas es una ‘prueba’ de que lamuerte no es el fin de todo”.

Concluiremos dizendo que a festa dos touros representa uma transacção complexa psicológica, resultado de compromissos entre os apetites sádicos da afición e sua sensibilidade inconstante à crueldade e à morte. Na actualidade, se se contempla demasiado sangue, se faz-se sofrer ao animal "excessivamente" ou se o homem corre muitíssimo perigo, a sensibilidade de uma maioria será ferida. Se, pelocontrário, se estes estímulos estiverem escassos, desaparece o atractivo da festa. Esta constitui um marco único para a projecção de impulsos instintivos[4]e para arepresentação de simbolismos inconscientes, efeito todo ele veiculado por meios altamente estéticos e tradicionalmente aceites. Não é de estranhar que a tauromaquia seja, como se diz frequentemente, "um espectáculo indesculpável, mas irresistível." (o grifo é meu)

(Imagem disponível em:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Ferdinando,_o_Touro#/media/File:Ferdinand_the_Bull.jpg>. Acesso em 4.4.2018





[1] Psicología de la afición taurina, Cecilio Paniagua. Ars Medica. Revista de Humanidades 2008; 2:140-157.
(Disponível no original em: <https://www.fundacionpfizer.org/sites/default/files/pdf/dendra/ars_medica_jun_2008_vol07_num02_140_Psicologia_de_la_aficion_taurina.pdf>(Acesso em 4.4.2018)

[2] transacción
Del lat. tardío transactio, -ōnis.
1. f. Acción y efecto de transigir.
2. f. Trato, convenio, negocio.
(Disponível em:< http://dle.rae.es/?id=aIEpSMR>. Acesso em 4.4.2018)

[3] retrecheros, retrechero, ra
1. adj. coloq. Que con artificios disimulados y mañosos trata de eludir la confesión de la verdad o el cumplimiento de lo debido.
2. adj. coloq. Que tiene mucho atractivo. Mujer retrechera. Ojos retrecheros. (Disponivel em:< http://dle.rae.es/?id=WKBV94U> .Acesso em 4.4.2018)

[4] No original instintuales

dimanche 13 novembre 2016

Je rêve d'un St Martin avec les cochons... vivants!

Je suis arrivé à Porrentruy à la veille du St Martin, pour la suite de ma formation postgraduée. Aujourd'hui, je me suis allé promener sur le Marché, célébré depuis 20 ans, au Centre ville. Et je l'ai beaucoup aimé, tellement sympathique et beau qu'il est, surtout la musique, joué par la bande municipale et des joueuses et joueurs d'accordéon.
Comme on peu s'apercevoir d'après l'affichage ci-dessus, la vedette de la fête c'est le cochon, néanmoins, pas malheureusement à cause de son visage mignon, mais plutôt pour être goûté.
D'habitude l'industrie de l'alimentation utilise des images d'animaux souriants et contents, en étiquettes et affichages comme celui-ci, pour présenter ses produits. Nous grandissons en croyant que les animaux, que nous trouvions mignons pendant notre enfance, naturellement servent à le seule but d'être exploités, et que deviendrons nos sources d'aliments, entre autres. Pourtant, c'est ne pas évidente que les animaux soient en effet si heureux comme les éleveurs veulent en nous convaincre. Pour la seule et vrai raison qu'ils sont condamnés à vivre une existence pénible, emprisonnés, en soufrant des terribles épreuves psychiques et fréquemment de la maltraitance physique, jusqu'au dernière de ses jours, quand ils seront cruellement abattus, devant le regard effrayé de ses compagnons, par les mains indifférents et insensibles d'autre espèce, l'être humain, qui ne se croit supérieur, et dans le droit de les rendre esclaves. Vies rendues misérables, uniquement pour le "plaisir" d'un repas, ou quelque qui serait d'autre, comme ses fourrures, par exemple, pour nous en servir. 
Sûre que leurs vies non nous appartient pas, ni nous ont jamais appartenus, je rêve qu'un jour, nous pourrions célébrer nos sacrées fêtes, partout, à lesquelles nous sommes si attachés et qui deviendraient même plus heureuses et belles, sans avoir besoin de verser du sang des innocents par terre. St Martin irait aimer ça, sûrement. Ainsi que le Créateur, Notre Seigneur, Notre Dame et tous les saints. Et que nos amis cochons aussi.



jeudi 6 octobre 2016

Ministra da Justiça defende mudança da qualificação jurídica dos animais.



 "A ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, defendeu a mudança da qualificação jurídica dos animais, considerados "coisas" no Código Civil de Lisboa, para uma definição intermédia "entre a coisa e o ser humano" (...) A ministra, que reconheceu alguma oportunidade na mudança de algumas questões na lei que entrou em vigor há 18 meses, o mais premente seria uma mudança ao nível do Código Civil, nomeadamente no que diz respeito à qualificação jurídica dos animais (...) Segundo Francisca Van Dunem, o caminho passa por os animais deixarem de ser uma coisa, obtendo-se uma classificação "entre uma coisa e um ser humano, que é onde se situam os animais (...)"
Disponível em: <http://www.dn.pt/sociedade/interior/animais-devem-deixar-de-ser-coisas-no-codigo-civil-5122588.html>. Acesso em 06.10.2016